BERNES
Diferenciam-se os bernes das miíases cutâneas, além do fato de serem as
larvas de espécies de moscas diferentes, pela particularidade biológica dos
bernes serem encontrados sempre isolados - uma única larva em determinado lugar
- nunca mais de uma larva num mesmo loco, a não ser quando pelas suas
proximidades, poderem vir a se unirem os locais de ambos pelo desenvolvimento
posterior das larvas; Já nas miíases cutâneas,além das larvas serem menores que
as das larvas de moscas do berne, são encontradas larvas em número em geral
grande, que chega até algumas centenas,todas em comum no mesmo local da
penetração, formando verdadeiras crateras na superfície do corpo de suas
vítimas.
São várias as famílias à que pertencem tais moscas, porém sob o ponto de
vista clínico-parasitológico, são as mesmas agrupadas em dois grandes grupos:
l - Larvas que se nutrem de tecido vivo - Larvas biontófagas;
2 - Larvas que se nutrem de tecido morto - Larvas necrobiontófagas.
2 - Larvas que se nutrem de tecido morto - Larvas necrobiontófagas.
Como ressaltado anteriormente, são encontradas as larvas de moscas que
constituem a doença com o nome de BERNE, sempre isoladas, em lócus individuais,
porisso denominadas também de furunculosas, e pertencentes às seguintes
espécies de insetos:
Dermatobia hominis - Constitue-se a espécie tipo, que recebe no Brasil o
nome de berne, e na região Amazônica o nome de Ura. Mede o inseto quando
adulto, de 14 até 17 mm e chama a atenção o colorido metálico de cor azulada da
sua região abdominal; O tórax castanho escuro com tonalidade azulada manchada
de negro, apresentando as bochechas de cor amarelo escura e brilhante. No ano
de 1911, Rafael Morales, estudante de medicina na Guatemala, descobriu por
observação, que o ovo dessa mosca era transportado por outros mosquitos para os
locais em que em seguida sendo depositado, vinham a reproduzir a doença.
Como todo inseto, seu ciclo evolutivo passa por fases: Os insetos
adultos alados, acasalando-se entre si dão origem a ovos que são postos pelas
fêmeas, e destes em seguida nascem larvas , que no caso por serem carnívoras
necessitam se alimentar de tecido vivo de outros animais, vindo então a
parasitarem suas vítimas, constituindo-se essa fase propriamente o que é
chamado de berne. Completado seu desenvolvimento no local em que se instalaram,
essas larvas abandonam o local para continuarem seu desenvolvimento,
transformando-se então em pupa, para darem em seguida origem ao nascimento de
novos insetos adultos. Vinte e quatro horas após a mosca ter abandonado o
invólucro pupal, efetua-se a primeira cópula, iniciando-se a postura no sétimo
dia; Os ovos são depositados diretamente sobre a parte lateral do abdome de
outros dípteros (insetos com duas asas), como moscas silvestres e mesmo a mosca
doméstica (Musca doméstica). Daí o fato da Dermatobia procurar animais
visitados assiduamente pelas moscas silvestres e por culicíneos (família a que
pertencem os pernilongos).
Segundo Neiva e Gomes, a Dermatobia fica a espreita de outras moscas e
mosquitos e procura agarra-los com as patas anteriores, mesmo sendo eles de
pequenas dimensões. Conseguindo apanhar um inseto, cavalga-o rapidamente, e
presa à ele,alça o vôo durante o qual deposita seus ovos que ficam solidamente
aderentes, graças à uma substância especial que os reveste.
A Dermatobia põe em geral somente 15 a 20 ovos pôr vez, e pôr inseto que
apreende, porém pode chegar sua postura até a 400 ovos. Estes outros insetos, e
não a própria Dermatóbia são os veículos pelos quais a mesma se serve para
levar seus ovos, e com eles, as larvas que vão em seguida, tendo contato com
outros animais, e mesmo o homem, penetrar na sua pele, constituindo o que é
denominado BÉRNE. No local em que se alojam referidas larvas após a penetração
na pele, à custa da própria carne de suas vítimas vão se desenvolvendo, pois é
o tecido vivo seu alimento; Ao cabo de 40 dias completado seu desenvolvimento,
o que em alguns casos pode chegar a 70 dias, deixam o local em que estavam
alojadas, e caindo no solo, transformam-se em pupas, a qual ao cabo de alguns dias
dão nascimento ao inseto adulto,
para novamente repetirem um novo e idêntico ciclo.
A larva desta mosca é facilmente identificável peso seu tamanho, por ser
das maiores que se conhece, em torno de até 10 mm (veja figura a cima) e outras
características só visíveis ao exame com lupa ou microscópio entomológico.
Outras espécies de insetos parecidos com a Dermatobia, como as abaixo
nomeadas, determinam doenças agora no aparelho digestivo de animais, com ciclo
próprio de desenvolvimento:
Gastrophilus veterinus e G. intestinalis - Ambos, em suas
fases de larvas, têm localização no aparelho digestino de animais da espécie
bovina.
Hypoderma bovis - H.lineatum - As larvas desses insetos muito se
assemelham às da Dermatobia, com a diferença de serem parasitas habituais de
animais, principalmente bovinos. Causam prejuízos consideráveis ao couro dos
animais explorados na produção de carne, pelo fato de seus couros ficarem
danificados quando não imprestáveis ao aproveitamento na indústria do couro.
Oestrus ovis - Estes insetos têm a particularidade de serem parasitas habituais de
animais das espécies ovina e caprina, e com localização nasal em sua fase de
larva. Já assinalado como hóspede do homem, porém sem haver chegado a sua fase
adulta. Em ovelhas, têm localização sempre nasal, ou nos seios frontais e
maxilares, causando forte irritação e excitação em seus hospedeiros, com
sintomatologia que pode ser confundida com outras doenças.
Numa próxima oportunidade tratarei das chamadas MIÍASES CUTÂNEAS,
vulgarmente chamadas de BICHEIRAS, causadas por larvas de algumas espécies de
insetos, que como ressaltei no início tem características próprias, diferentes
dos Bernes.
Miíases ou Bicheiras
1 - BIONTÓFAGAS - Larvas que invadem os tecidos sãos, não
necrosados, inclusive a pele íntegra São essas larvas chamadas de biontófagas,
pois se desenvolvem a custa do tecido vivo, e por conseguinte, podendo
comprometer o estado geral do homem ou do animal por elas parasitado. São essas
larvas parasitas obrigatórias. Neste grupo estão agrupadas as seguintes
espécies de insetos: Callitroga americana, Dermatobia hominis e Oestrus ovis.
2 - NECROBIONTÓFAGAS - Larvas que invadem exclusivamente
tecidos já afetados por necrose de outras causas .Estas nutrem-se
exclusivamente de tecido morto e porisso classificadas como necrobiontófagas;
Algumas delas não são prejudiciais, pois limpam as feridas do material
necrosado; Neste grupo estão as moscas do gênero Lucilia, que já foram
inclusive utilizadas como meio terapêutico nos primórdios da medicina.
Raríssimamente iniciam uma miíase, e com certa freqüência são
encontradas como saprófagas de feridas ou cavidades infestadas por outras
espécies do grupo anterior. As principais larvas deste grupo,pertencem aos
seguintes gêneros de moscas: Sarcophaga, Lucilia, Phaenicia, Calliphora, Musca,
Mucina e Fannia.
Sob o ponto de vista médico, no Brasil, as miíases podem ser:
1 - Cutâneas - Miíases Furunculosas, produzidas pela Dermatobia homininis e pela
Callitroga americana; Lesões parecidas à de furúnculos, daí o nome acima:
Furunculosa.
2 - Cavitárias -
a) Miíases das feridas - Callitroga macellaria;
b) Nasomiíases - Miíases na região do nariz;
c) Otomiíases - Localização na região dos ouvidos:
d) Oculomiíases - Localizadas na região orbital;
e) Cistomiíases - De localização na bexiga;
f) Miíases intestinais - Quando sua localização é nos intestinos.
a) Miíases das feridas - Callitroga macellaria;
b) Nasomiíases - Miíases na região do nariz;
c) Otomiíases - Localização na região dos ouvidos:
d) Oculomiíases - Localizadas na região orbital;
e) Cistomiíases - De localização na bexiga;
f) Miíases intestinais - Quando sua localização é nos intestinos.
As miíases causadas por larvas de moscas necrobiontófagas (que se
desenvolvem unicamente em carne pútrida ou em tecidos orgânicos fermentáveis)
tornam-se pseudoparasitas de lesões ou tecidos doentes; Determinam o que se
denomina miíases secundárias, por ser necessária a presença de material
necrosado da ferida ou cavidade, para seu desenvolvimento.
Nas ulcerações, os danos em geral carecem de importância, pois as larvas
se limitam a devovar os tecidos necrosados (mortos), não invadindo as partes
sadias, e por conseguinte não ocasionando hemorragias. Estas foram já em
passado recente utilizadas na "limpeza" de feridas, porque
alimentando-se do tecido necrosado que existe em toda ferida, aceleravam e
facilitavam o processo de cicatrização.
Cabe ser observado que nas regiões onde ocorre a Leishmaniose cutânea,
como na região amazônica, principalmente no Território Indígena dos Ianomâmis,
são observados com muita freqüência as naso-miíases, que nada mais são que
miíases secundárias de larvas de moscas necrobiontófagas, que se instalam na
região do nariz, nas lesões causadas primariamente pela Leishmania tegumentar.
As Miíases intestinais são sem sombra de dúvida, causadas pela ingestão
de ovos ou larvas, por meio de bebidas ou alimentos por esses ovos ou vermes
contaminados, e suas conseqüências carecem em geral de gravidade, produzindo algumas
vezes apenas náuseas, vômitos e diarréia. Não obstante, a intensidade desses
sintomas dependem da sensibilidade do próprio enfermo, e do número de larvas
ingeridas. Segundo alguns autores, as larvas de moscas são resistentes à ação
de certas substâncias, inclusive à ação dos sucos digestivos, podendo viver
durante algum tempo no tubo digestivo.
Para o tratamento das bicheiras, quando as mesmas são superficiais
(cutâneas), basta aplicação local de qualquer substância que seja ativa contra
os insetos em geral, e concomitantemente não seja tóxica ao hospedei-ro, para
que as larvas ou morram ou simplesmente sejam expulsas do local onde se
encontram, e a cicatrização subsequente do ferimento leve a bom termo a cura da
enfermidade.
Quando se dá o caso de serem as bicheiras cavitárias, como é o caso das gasterofiloses eqüinas, seu diagnóstico pelas técnicas coprológicas usuais não é possível, a não ser quando encontradas larvas íntegras no bolo fecal desses hospedeiros, o que pode ocorrer porém de forma fortuita, e portan-to o simples exame de fezes com resultado negativo não descarta sua ocorrência. A presença de ovos íntegros ou as larvas desses ovos já eclodidas, aderentes aos pêlos dos membros anteriores e nos espaços intermandibulares, é indicativo do parasitismo pelos gasterophilus.
Quando se dá o caso de serem as bicheiras cavitárias, como é o caso das gasterofiloses eqüinas, seu diagnóstico pelas técnicas coprológicas usuais não é possível, a não ser quando encontradas larvas íntegras no bolo fecal desses hospedeiros, o que pode ocorrer porém de forma fortuita, e portan-to o simples exame de fezes com resultado negativo não descarta sua ocorrência. A presença de ovos íntegros ou as larvas desses ovos já eclodidas, aderentes aos pêlos dos membros anteriores e nos espaços intermandibulares, é indicativo do parasitismo pelos gasterophilus.
Durante muito tempo, os únicos tratamentos conhecidos para o combate à
gasterofilose eqüina, foi com a utilização de bissulfeto de carbono
administrado oralmente e contido em cápsulas de gelatina.Devido sua toxidez,
caso administrado sem a devida técnica, muitas vezes causava a morte do animal
hospedeiro quando do seu tratamento com essa substância farmacêutica.
Com a descoberta das substâncias organo-fosforadas, os produtos
sintéticos triclorfon e diclorvos, mostraram-se eficazes contra todos os
estágios da fase larval desses insetos. O primeiro deles tem sido o produto
mais utilizado em nosso meio, isola-damente ou em associação, sob a forma de
pasta, com benzimidazoles. Sen-do pequena a margem de segurança, no que diz respeito
a dose desses produ-tos, que tem sua dose terapêutica fixada em 35/40 mg por
quilo de peso vivo do animal, deve tal dose ser fixada e criteriosamente
observada quando do tratamento, sob pena de resultados desastrosos, inclusive
com possível morte do animal.
Em fins dos anos 70, foram desenvolvidos novos fármacos, obtidos da
fermentação de um fungo: (Streptomyces avermitilis), isolado do solo, no Japão.
Uma dessas avermectinas, denominada de B1, apresentou ação anti-parasitária
contra todas as fases larvárias desses Gasterophilus, tanto nos ecto quanto
endoparasitas.
Recentemente, o anti-helmíntico salicilanilídico closantel, utilizado
geralmente associado aos benimidazoles, sob a forma de pasta, mos-trou-se
também eficaz como gasterofilicida, inclusive impedindo reinfestações dos
eqüinos até cerca de dois meses após o tratamento.
As miíases ocorrendo em praticamente todo território brasileiro devido
nossas condições climáticas predominantemente tropicais e equatoriais que muito
favorecem o desenvolvimento dos insetos em geral, possibilitam sua
multiplicação em ritmo acelerado, e com isso concomitante aparecimentos de
bicheiras em nossos rebanhos, quer bovinos, suínos, eqüinos, ovinos ou
caprinos.
As perdas decorrentes dessas miasses se traduzem principalmente por
menor rendimento dos rebanhos explorados, quer na produção de leite, quer na
produção de carne e seus subprodutos como o couro, este último muito depreciado
pela bicheira.
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